• Capítulo Um • Phanpy, A Primeira Captura | É importante destacar que se passa em uma realidade alternativa, onde o auge da tecnologia são as pokebolas e as pokedex e os computadores só existem nos laboratórios mais sofisticados que isolam todo o conhecimento tecnológico para si mesmos, enquanto o enredo se desenvolve em um cenário parecido com o de um conto medieval.
| O conto se passa em uma realidade alternativa, com foco para a vida de um garoto ainda na flor da idade, beirando os dezesseis anos. O jovem habita uma vila no auge do seu tempo devido a expansão em todos os termos desde a descoberta de ricas fontes de minério ao seu envolto. Os ricos depósitos de minério precisam de mineradores e os mineradores de um lugar para viver. A verdade é que além dos mineradores existe uma enorme variedade de culturas e da mesma forma que os magnatas foram atraídos pelo ouro, vários larápios também o foram. Grageon Fletcher - o rapaz do qual tratamos - está ciente da chegada de malfeitores e pronto para enfrentá-los, guardando a patrimônio de homens poderosos em troca de dinheiro. |
Eu havia despertado sobre a relva verdejante, coberto por um emaranhado de grama e folhas que caíram das árvores enquanto eu repousava. O dia mal havia começado e eu já estava absorto em meus pensamentos, com a mente pesarosa cogitando um possível atraso. Os meus olhos perscrutavam em um curto espaço, limitado pela névoa matinal que rodeava a vila de Coffurt todas as manhãs, traçando a baliza conhecida circunscrever até onde os transeuntes deviam percorrer. Os mais supersticiosos – em sua maioria, senhores de idade – diziam que a penumbra comportava as mais perigosas criaturas, bestas de aspecto felino com garras e presas tão afiadas quanto uma adaga forjada nos vulcões Clinkerfurt, com os pelos suficientemente espessos para interceptar as flechadas mais precisas disparadas pelos arcos mais mortais. Pus-me de cócoras e posteriormente em pé, estapeando o meu gibão em uma tentativa inútil de remover a poeira que se acumulava por sua extensão, impregnando o couro.
O local era seria um enorme descampado se não pelo pequeno conjunto de árvores altas em que descansei – e do seu topo a minha vista alcançava a silhueta da vila esboça no paredão rígido de rochas. Virei-me e sacolejei as pernas, disposto a escalar as árvores. As minhas mãos calejadas envolviam com firmeza os galhos enquanto os meus pés buscavam brechas, latejando dentro de minhas botas de couro; conforme traçava os poucos metros, as ramificações mais finas dos galhos ricocheteavam contra o meu rosto, avermelhando-o e fazendo com que as feridas se destacassem do suave amarelar do qual a minha pele derivava. As moedas nas sacolas presas ao meu cinto chocalhavam e pendiam, talvez eu devesse tê-las deixado em baixo da árvore e não trazê-las comigo. Não demorou muito para que o meu rosto se sobrepusesse em relação ao topo da árvore, podendo enxergar finalmente a vila.
A trilha até os portões era de cascalho sobre uma vala modelada pelos construtores, serpenteando por planícies e montanhas e em alguns casos contornando lagos. Era outono e as árvores tratavam de manter a sua folhagem escarlate, derrubando-as em certas ocasiões e criando tapetes carmesins nas elevações em que se encontravam. Os animais silvestres despertavam e encantavam à todos os andarilhos da região com a pluralidade de espécies, a rica diversidade existente nos arredores do povoado. ─ Algumas horas a mais de descanso não fariam mal algum ─ propus, com profundas cavidades ao redor dos meus olhos castanhos e os ombros pesados mal pude apreciar a paisagem que dispunha. Tardou até que as muralhas se erguessem no horizonte, negras como um breu e com o desgaste exposto em depressões e rachaduras, mas ainda assim respeitável. Assenti para dois guardas; os homens haviam trocado as suas lanças de ferro e cotas de malha por esferas misteriosas que carregavam eu seus cintos; também dominavam as estranhas criaturas. Uma dupla de criaturas de pele cinzenta e rígida se aprumava logo atrás dos seus supostos mestres, ostentavam um cinturão e protuberâncias amareladas em suas cabeças lisas; com o esforço que seria cobrado de quatro homens empurraram os longos portões de carvalho para que eu pudesse entrar, exigindo de seus músculos a potência que não poderia ser encontrada em nenhum humano.
O chão dentro da aldeia era de terra batida, desprovido do verde que condecorava os olhos de quem caminhasse pelos arredores. Uma estátua de concreto içava-se em seu posto, honrada pelas viagens dos pássaros a demarca-lo em uma disputa constante. Cresci ouvindo todos chamarem-no de “O Homem de Lança”, pois carregava uma lança que teria pelo menos duas vezes o seu tamanho; o seu autor era desconhecido para um leigo como eu que acreditava fielmente que seu nome teria sido apagado da história com o decorrer dos anos. A terra que levava pelas era enegrecida e destacava a repartição clara que levava até os estabelecimentos; galguei a zona residencial e comercial para chegar onde finalmente deveria estar.
“A Montanha”, diziam eles. Era a maior benção de Coffurt, e a guarnição de suas rochas era complementada pela muralha. A Montanha pompeava vinte e seis cavernas que davam acesso ao seu interior rico em minérios e cada abertura era grande o suficiente para que dez homens passassem lado a lado sem dificuldades e com o passar do tempo eram alargadas. A minha função era defender os mineradores de monstros como o que eu carregava até que o expediente deles terminassem; no final do serviço deles, devia conduzir o que fosse extraído até o armazém e resguardá-lo até a troca de turnos. Não havia separação nenhuma entre a área de mineração e a cidade se não o fluxo constante de homens carregando pedras em carrinhos de mão. O terceiro arco de rochas da esquerda para a direita era o meu setor e o maior deles, vendido pela cidade para um homem muito rico e generoso. A esfera em minha sacola latejava; tomei o surrado em mãos e desfiz o seu nó puxando uma das extremidades. O instigante botão branco em seu centro fez com que o objeto inflasse ao toque, e ao arremesso conjurou uma aura cintilante que de dissipava e ascendia a uma salamandra bípede com a cauda em brasas; os seus curiosos olhos azuis miraram-me com alegria e ânimo e sem perceber envolvia-me cada vez mais com a criaturinha.
A cauda de Lockjaw (como eu havia o apelidado) servia como uma tocha natural, eu então dispensei o utensílio quando me o apontaram, não seria de grande utilidade. Agradecia por minha ferramenta de trabalho ser um animal e não uma picareta. Aos poucos ia aceitando conviver com o alarde estridente do ferro contra as pedras, a cada golpe o som penetrava os meus ouvidos de certa forma conformados com a situação. Existiam várias bifurcações ligadas ao caminho principal e guarda-las era um desafio; a escuridão era engolida pelas chamas em um raio de seis metros ao redor da salamandra. Caminhei por algum tempo apenas observando o trabalho dos rapazes, até que uma voz se destacou em meio aos estrondos de pedra sendo esculpida e minérios sendo extraídos; um grito agudo cuja intensidade só era proporcionada em momentos aterrorizantes, os escavadores rapidamente cessaram o que estavam fazendo e desobstruíram o caminho que outrora se via lotado de corpos em movimento; corri acompanhado de Lockjaw que reprimia “char, char” incessantemente.
BATALHA
Corremos tão rápido quanto podíamos e chegamos em menos de um minuto até a abertura específica onde uma criatura azul e pequena destruía pedras e involuntariamente feria os trabalhadores com os destroços; ela parecia estar zangada e um homem ao meu lado insistia em dizer que ela havia se perdido do seu grupo. Retesei o meu braço cansado e senti pesá-lo como nunca, apesar disto não fraquejaria, não na frente dos homens que jurei prometer. ─ Flamethrower! ─ Repeli, seguindo a lista de comandos que a tela colorida apontava ao mirar Lockjaw que vulgarmente chamavam de Charmander. A salamandra tomou a dianteira e inspirou pesadamente com os seus braços desproporcionais movendo-se ansiosamente sem sentido horário, conforme pisoteava sem qualquer coordenação pelo solo desnivelado até que finalmente expeliu labaredas incandescentes, arremessando a pequena criatura. O local onde estávamos era estreito e ataques amplos seriam mais aconselháveis. O animal se recompôs e agitou a sua cabeça, tentando se recuperar da tontura proporcionada pelo impacto. De imediato em que as chamas surgiram todos os outros homens se afastaram, Lockjaw, eu e Phanpy – nome pelo qual a criatura correspondia segundo o banco de dados da pokedex – éramos os únicos no nosso campo de batalha. Impressionei-me ao vê-lo assumir um formato esférico e marcar profundamente o caminho conforme girava, estilhaçando as pedras no caminho. O conhecimento geográfico não seria suficiente para contê-lo sempre, mas por estarmos próximos a entrada, Lockjaw recuou e contornou o ângulo, indo para a esquerda e deixando o corredor apenas com Phanpy que seguiu reto até notar o ocorrido. ─ Que ótimo Lockjaw, foi um bom movimento ─ elogiei embora soubesse que o recurso não poderia ser usado novamente, pois agora estávamos em um longo caminho sem bifurcações ─ scratch! arrisquei. As garras de Charmander brilhavam com fulgor, ele se aproximou com a sua cauda balançando com um pêndulo e descreveu um movimento circular, faiscando na pele de Phanpy em um estado em que ele parecia ter conquistado endurecendo-a. Ele investiu com o seu corpo resistente e acertou a minha criatura no estômago forçando-o a recuar em alguns passos. Sem qualquer ordem Charmander utilizou flamethrower nas rochas, deixando-as quentes e forçando Phanpy a se afastar, onde ele atacou novamente; ─ já sei, façamos isto até que Phanpy esteja incapacitado, boa ideia Lockjaw! ─ Não havia qualquer rota que proporcionasse uma escapatória ao Phanpy, apenas um paredão de rochas onde ele foi encurralado e potencialmente desmaiando. Tomei em mãos uma das esferas vazias, sem qualquer outra criatura aprisionada e arremessei-a sobre a besta. Da mesma forma que ocorria com Lockjaw ao ser expelido, uma aura rutilava e tremeluzia ao redor de Phanpy e finalmente tomou-a para dentro da esfera que balançou por algum tempo até que se estabelecesse e perdesse o brilho, voltando a normalidade.
Havia sido um dia de trabalho diferente de qualquer outro, mas obrigatoriamente retornei ao expediente.
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Eu sei o que você deve estar pensando. |
| Eu só queria parar e descansar, quem sabe acompanhado de uma bela garota... |
| Mas eu preciso sustentar à mim mesmo e a pequena criatura apegada em minha perna |
| Por isso eu levanto a cada dia e venho proteger estes homens, para sustentar a minha pequena existência. |
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Pokémon: Charmander
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